quarta-feira, 21 de setembro de 2005

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Fátima Felgueiras chegou ao Tribunal de Felgueiras
George Monbiot | It would seem that I was wrong about big business

O país acordou com a notícia e a polémica: fátima felgueiras regressou a portugal da sua fuga brasileira, e foi imediatamente detida. Isto seria uma excelente notícia (mais uma política corrupta atrás das grades) se não se tivesse complicado: Felgueiras regressou a portugal para se candidatar à autarquia de Felgueiras. Fomos assim mimoseados com as fantásticas declarações de um jurista constitucionalista, que assegurou um país preocupado com a injusta detenção de tão ínclita ex-autarca que nenhum candidato a qualquer cargo político pode ser detido antes das eleições. Só depois, e isto se não tiver sido eleito. Aparentemente, a lei portuguesa confere imunidades a candidatos e detentores de cargos políticos. Só não parece existir nenhuma lei que impeça comprovados criminosos de concorrerem a cargos políticos - o que ajuda a explicar os bandos de corruptos que se enquistaram no poder local, fazendo troça de toda a legalidade enquanto enchem os seus bolsos e os dos seus correlegionários com o dinheiro dos nossos impostos. O constitucionalista, académico típico, habitante de uma torre de marfim legal em que a excitação sobe perante os contrastes interpretativos permitidos por uma vírgula aqui ou um pontinho ali num qualquer artigo arcano de uma lei empoeirada, nítidamente parece ter perdido toda a noção da realidade.

A menos que a minha realidade, aquela em que criminosos são punidos, não seja aquela que rege o país.

Sempre que pensamos na relação entre poluição e aquecimento mundial, pensamos logo na ganância das grandes empresas, que se publicitam como verdes mas continuam a poluir desgarradamente. No artido de George Monbiot (um conhecido ecologista britânico) ontem publicado no The Guardian, surgiu uma imagem diferente: perante a irreversibilidade do aquecimento global, as empresas estão a tentar modificar as suas práticas, investindo em tecnologias menos poluentes e a investir em formas alternativas de energia. Faz sentido - os custos económicos do aquecimento global são evidentes. É tarde para evitar o aquecimento global, com todas as consequências adversas que trará (comprovadas pela força do furacão que devastou Nova Orleães, num ano em que as tempestades tropicais já são tantas que as letras do alfabeto utilizadas para lhes dar nome se estão a esgotar), mas é do interesse económico das empresas minorar os efeitos, prevenindo assim prejuízos. Qual é, então, o obstáculo? Os governos, que se recusam a aprovar legislação que apoie políticas empresariais pró-ambiente e puna efectivamente os poluidores, legislação essa que as próprias empresas pedem que seja elaborada. Tudo isto, de acordo com os políticos, em nome da liberdade do mercado.

Por vezes penso que estamos todos dentro de um carro quase sem travões, a descer uma ribanceira. Aqueles que sabem conduzir não estão no volante; e os que sabem travar não chegam aos travões. Os condutores são uns alucinados que gritam em pânico que não há motivos para preocupações.