domingo, 14 de agosto de 2005

Post Scripts



O número de visitas ao blog já anda na casa das três centenas. Nada mau, pensam? Sei perfeitamente que os leitores regulares do blog se contam pelos dedos de uma mão. Então, de onde vêm os outros? De pesquisas na net, onde o meu blog figura em lugares respeitosamente na casa dos dez primeiros. O blog aparece em pesquisas de um pouco de tudo, desde o hipnerotomachia poliphili (na fnac há uma edição à venda, se gostarem de textos obscuros da itália renascentista não deixem de comprar) às três idades da mulher, passando pelas tricotteuses. No entanto, e para meu grande horror, grande parte das visitas ao blog encontra-me em busca de informações sobre uma certa banda que me recuso a nomear e que detesto particularmente (ao ponto de pensar sériamente em cometer genocídio nas pessoas que compõem a banda). Digamos que é uma banda particularmente desértica, que ilustra bem a boa merda que é o panorama musical pop português.

Ou seja, ando eu para aqui com observações sobre a vida moderna e críticas literárias, armado em intelectual, e quem me descobre só quer saber dos... the thing that should not be. Não, não vou nomear a banda dos meus ódios, deixo-vos antes com uma referência a Lovecraft, um escritor que havia de ser de leitura obrigatória no secundário. Como sei que nunca o leram, e não o irão fazer, não estrago nada se disser que a coisa cujo nome não deve ser pronuciado (the thing that should not be) é nada mais nem menos que Cthulhu. O grande deus Cthulhu, entidade malevolente que habita para além das estrelas, nessa dimensão de caos governada por Nyarlathotep, deus cego do patético caos rastejante.

Gostaram das fotos da procissão da senhora da boa viagem? Como, não encontram esses registos etnográficos? Longa história. Não a vou contar.

Terminei a leitura de um romance surpreendente, Os Comedores de Pérolas, de João Aguiar (eu a ler autores portugueses... é melhor registar isto, que senão ninguém acredita). É um romance surpreendentemente apaixonante passado em Macau. Em breve deixo aqui umas observações.

Macau. Sonho português no oriente. Honestamente vos digo: se o governo português não decidisse entregar Macau à China (assegurando assim o eterno esquecimento dos quinhentos anos de história lusa na foz do rio das pérolas) oferecia-me para dar aulas numa qualquer e. b. 2,3 macaense, mesmo sabendo que ia ensinar putos que não iam pelcebel patavina de um qualto de qualquel coisa que eu dissesse. Que se lixasse, eu gostaria de lá viver precisamente por causa daquele sentimento decadente associado ao ocaso do sonho colonial representado por aquele entreposto romântico meio esquecido entre Hong Kong e Shenzen. As palavras Macau, Taipa e Coloane despertam-me ideias de exotismo e modernidade, vigor económico selvagem e sonhos coloniais de kwai-lous em busca do exotismo do oriente sob as suas variadas formas sensuais. Infelizemente os políticos estragaram tudo (fazendo assim aquilo que eles sabem bem fazer) e agora Macau é parte integrante (como no fundo nunca deixou de ser) da Grande China, a potência do século XXI.

Para vossa referência, kwai-lou significa diabo branco. Eis como somos vistos por aqueles olhos orientais que nos levam a falar de um terno multiculturalismo. Obrigado por ter deixado esta expressão no seu livro, João Aguiar.

Agora, para terminar, uns links para vossa edificação:

Negro Space Program site de um falso documentário sobre um programa espacial segregado (completo com imagens de pretos em fatos de astronautas da nassa - nasa em pronuncia analfabeta). Um site brilhante: brinca de forma absurda com as concepções de racismo.

Eadweard Muybridge Gostam de ver televisão? Então aprendam um bocadinho sobre um dos pais da imagem em movimento. No século XIX, estudou o movimento com máquinas fotográficas para ganhar uma aposta sobre cavalos. De caminho, inventou as técnicas de fotografia em alta velocidade e estudou a forma como os cavalos e as mulheres nuas se moviam em séries de fotografias que preconizam o cinema. Qual foi a aposta? Saber se os cavalos, quando galopam, em algum momento têm as quatro patas no ar. Muybridge provou a veracidade desta afirmação. As mulheres nuas pouco têm a ver com cavalos, mas Muybridge, como bom inglês vitoriano que era, não era avesso ao estudo das vénus em nome do progresso da ciência.

NArchitects Vivemos todos em bunkers com varandas. Ignoramos tácitamente esse facto e afirmamos que estamos profundamente endividados aos bancos para pagar as belas casas dos nossos sonhos. Sendo assim, não visitem este site. A frustração ao ver as formas que as casas pode verdadeiramente tomar poderão levar ao suícidio, assassínio ou coisa pior.