Após a minha nomeação para o importantíssimo cargo de administrador do condomínio, têm sido bastantes os problemas que me têm obrigado a dar voltas à cabeça para os resolver. São os vizinhos que não se estão para dar ao trabalho de pagar as taxas de condomínio, são os esgotos que entopem, são os pagamentos às mulheres da limpeza e ao jardineiro, as milhares de lâmpadas que estouram, as portas da garagem que se avariam, enfim, um ror de chatices.
Se eu soubesse que isto dos condomínios era assim, tinha optado por comprar uma vivenda. Ou então mobilava uma caverna.
A última dose a testar a minha paciência prende-se com uma conta de àgua a rondar os setecentos e cinquenta euros. Quinhentos euros de consumo de àgua, mais as taxas de ambiente. Trezentos metros cúbicos de àgua em dois meses. É obra, tendo em conta que a àgua é gasta num sistema de rega que está reduzido ao mínimo, para poupar àgua, e numa mangueira que serve apenas para lavar o chão da garagem. É impossível que isso gaste trezentos metros cúbicos de àgua, a menos que... haja uma rotura.
Dei um pulinho à Générale des Eaux, em Mafra, a empresa que gere as àguas do município, e expus o caso. Fiquei estupefacto quando me disseram que após terem feito a contagem, ficaram tão surpreendidos com o débito de àgua que voltaram a fazer a contagem, para se certificarem de que estava tudo correcto. Após nova contagem, já contava mais. A senhora que amávelmente me atendeu em mafra também achou que tanto débito de àgua se poderia dever a uma fuga, e atenciosamente me disse que existe um piquete de fugas que me poderia verificar com alguma precisão o local da fuga. Porreiro, pensei, já não preciso de mandar demolir o prédio para acabar com a fuga. Serviço pago pelo cliente, claro. Note-se que apenas localizam, não reparam.
E assim saí da Générale des Eaux a pensar na ganância, burrice ou incompetência da companhia das àguas. Muito antes de mim, já eles sabiam que o meu prédio gastava àgua a mais. Mas não avisaram atempadamente: só dei conta ao abrir por acaso a factura da àgua, que é paga por transferência bancária. E até os compreendo. Enquanto durar a fuga de àgua, a Générale des Eaux só ganha. É ver os euros a entrar... uma lógica perfeitamente compreensível neste ano de seca, em que todos nos esforçamos por combater o desperdício de àgua.
Compreende-se então que uma empresa de distribuição de àgua, que apela à poupança de àgua nestes tempos de seca, não se dê ao trabalho de avisar um cliente que anda a gastar demasiada àgua e que deveria averiguar se a àgua que gasta é por consumo ou por fuga ou rotura nos canos?
Em portugal, claro que sim.