sábado, 2 de julho de 2005

Marvel 1602

Marvel


Marvel
Devir
Sequart | Annotations to Marvel 1602

Devo confessar que quando peguei na primeira das duas edições de Marvel 1602 fiquei desiludido. o comic tinha Neil Gaiman como argumentista, o que é sempre sinal de BD bem escrita, mas o conteúdo deixou-me indiferente. Pareceu-me uma simples transposição do universo marvel (voçês sabem, homem-aranha, capitão américa, quarteto fantástico, sr. destino, x-men, etc.) do século xx para o século XV. A piada, pareceu-me, estava em identificar os personagens e seus atributos sob uma capa de século xv. Mas, felizmente, o segundo volume desenganou-me.

Mais do que uma simples transposição, Marvel 1602 é um tributo aos comics clássicos da marvel - uma fantasia que recria magistralmente aquela sensação inesperada de maravilhoso e fantástico que todos sentimos quando lemos, pela primeira vez, um comic marvel, e nos apercebemos que gostávamos de ler mais. Aquele primeiro passo para um vício de uma vida...

Na verdade, hoje sou incapaz de ler um comic marvel (ou dc) contemporâneo. A agressividade dos traços, o uso excessivo de grandes planos e planos de pormenor incomoda-me, bem como a violência dos argumentos. Eduquei-me visualmente com a marvel clássica dos anos 80 e princípios dos anos 90, com os X-Men escritos por Chris Claremont e desenhados por John Byrne, com o Demolidor escrito por Frank Miller e desenhado por David Mazuccheli, e outros títulos cuja qualidade estava ao nível destes dois. Lia-os naquelas traduções brasileiras em formato de bolso da Abril, com nomes provocativos como Heróis da TV, Superaventuras Marvel e, mais tardiamente, X-Men, Grandes Heróis Marvel, Capitão América e Marvel Especial. Não é a marvel clássica dos anos 60, é a marvel estabelecida e madura dos anos 80, que abandonava já a puerilidade dos argumentos (no fim de contas, uma história de super-heróis não é exactamente uma história complexa e adulta) sem comprometer a qualidade visual das bds. Posso dizer que aprendi a minha anatomia a ler comics de super-heróis (sem aquela barriguinha que hoje me caracteriza...). E ainda hoje sinto aquele sentimento de maravilhoso e extraordinário quando releio os comics daquela épocaEstranhamente, as edições da Abril desapareceram do mercado e as edições portuguesas nunca pegaram. Por um lado até é bom, Graças aos deuses pela editora Devir, a criar novos fãs de comics e a editar o que há de melhor no campo!




Marvel 1602 transpõe o universo marvel para o ano de 1602, adaptando a geografia das histórias para a geografia da época - a américa é um continente selvagem, cuja única "cidade" é Roanoke; os heróis sediam-se em inglaterra e vagueiam pela europa do renascimento; os grandes inimigos de charles xavier (carlos javier neste universo paralelo) encontram-se no Vaticano e na Santa Inquisição; e a tarefa que espera os heróis marvel é a salvação do universo (claro, menos do que isso nem seria de pedir) que se está a desfazer após o surgimento de uma anomalia temporal no século XV. É um argumento rebuscado, digno de Neil Gaiman, cuja seminal série The Sandman ainda não tem paralelo.