Quem quer ser pinguim?
Consigo dizer com toda a honestidade que me estão a doer músculos que nem sabia que existiam. Estou bastante cansado. Mas é um cansaço agradável, o cansaço que se segue a um trabalho bem feito.
Modéstia à parte.
Mas ontem consegui uns trabalhos bem feitos. Os meses de preparação deram bons frutos. Tenho de começar pelos trabalhos da minha disciplina, mas aí a culpa também é da minha colega, Paula Oliveira - que tem um método algo anarca de trabalho, mas que me está a fazer bem - liberta-me das preocupações de rigor excessivo e ajuda-me a entender EVT como uma disciplina onde as técnicas estão ao serviço da criatividade, e não ao contrário. Faz bem à elasticidade mental desenvolver um trabalho que começa por ser uma coisa (no caso, uma espécie de mobile com peixes recortados em cartão e madeira) e evolui em direcções surpreendentes (transformou-se numa "instalação" misturando estruturas em madeira pintada, bandeiras, pinturas e criaturas modeladas em papier-maché). Já durante a montagem começámos a ouvir elogios, e durante a exposição ainda ouvi mais alguns. É recompensador, a vàrios níveis. Geralmente, quando participo em exposições de trabalhos de alunos, o ambiente parece ser o de sacristães a elogiar os padres - as exposições são dentro da escola, pouco acessíveis aos pais, e são vistas apenas pelos professores e alunos. Parece-me uma forma muito elaborada de produzir para a gaveta. Ter um colega de trabalho a elogiar trabalhos desenvolvidos com alunos meus diz-me pouco. Ouvir esses elogios (ou críticas) por parte de pessoas que me são estranhas, embora pertencentes à comunidade onde lecciono, já me diz muito. Percebi isso, no ano passado, com a exposição de trabalhos no museu de mafra. E este ano só reforçou a minha ideia.
Outros trabalhos que também deram frutos foram o teatrinho "O príncipezinho" que desenvolvi com o 5ºD e as dramatizações sobre a solidariedade que desenvolvi com a minha direcção de turma. O trabalho com o príncipezinho foi um sucesso. Modéstia à parte. Foi mesmo. Os alunos passaram a maior parte deste terceiro período a ensaiar, a trabalhar no texto, representação e adereços, e notou-se. Em palco, não houve hesitações, e tudo correu lindamente - para grande descanso do meu coração, que já pulava de nervosismo... mas, da turma D, eu esperava um bom trabalho. E os alunos corresponderam.
A minha direcção de turma costuma ser muito mal afamada, devido às traquinices de alguns dos rapazes da turma. Tem sido uma dose forte (embora não tão difícil como outras turmas que já tive), e um ano atribulado. Mas, teimoso como sou, insisti para que os alunos apresentassem um trabalho ontem. Queria que os alunos (e professores) levassem uma recordação mais positiva da turma do que sermões e problemas disciplinares. Mas estava pouco confiante no sucesso do trabalho - as sessões de ensaio foram poucas, restringidas a algumas aulas de formação cívica (três quartos de hora por semana) e alguns finais de aula de EVT. Mas, pensei, já conseguir coordenar uma participação é um bom sinal.
Superaram as minhas expectativas. Entraram em palco, actuaram, e terminaram em cheio com o rap da solidariedade, que a Paula desenvolveu com eles em Àrea de Projecto. Foi estrondoso.
Trabalhou-se muito. Quer nas aulas de EVT (aulas e aulas a pintar, a envernizar, a modelar, tanta coisa), quer nas outras aulas que lecciono, o esforço foi grande. Foi preciso motivar, relembrar a motivação, ficar com os nervos à flor da pele, mas a minha teimosia resultou. Tenho boas razões para estar contente - estes trabalhos deixam marcas na memória, e ultrapassam a rotina esperada de um ano lectivo.
Gostei muito de participar no arraial do agrupamento de escolas da Ericeira. A mostra de trabalhos à comunidade, para mim, é uma ideia excelente, e uma festa diverte-nos a todos. Só é pena que os meus alunos me estivessem sempre a rondar, a tentar ver com quantas imperiais é que eu estava a "aquecer os meus pulmões" (nas imortais palavras de um deles). Quando lá entrei, às nove da manhã, não imaginei que ainda lá estaria às 3 da manhã do dia seguinte, a finalizar as arrumações. Mas foi divertido, mais que não seja porque se geram sempre engraçadas cumplicidades que desanuviam ambientes de trabalho.