Quem reina é quem tem mais dinheiro. E perante a perspectiva de se ganhar mais dinheiro, todos saltam, como cães perante ossos, esquecendo tudo o resto - direitos humanos, ambiente, liberdades.
A Microsoft é considerada o império do mal devido aos seus métodos para assegurar o domínio do mundo informático. E deu mais um passo em frente para assegurar o seu epíteto ao colaborar com o governo chinês para censurar o acesso à internet na China. Passando por cima de meros ideais não lucrativos como liberdade de expressão e de pensamento. Internet à chinesa já é uma coisa arriscada - os pontos de ligação das redes chinesas às redes mundiais estão protegidas pela chamada Grande Firewall da China, que protege os internautas chineses de depravações como pornografia e ideias democráticas; a internet é policiada por uma força policial dedicada, que faz rigorosamente cumprir as leis chinesas sobre dissidência e opinião política. Digamos que, se eu fosse chinês, menos de metade do que já escrevi neste post já me valeria uma pena de prisão pesadíssima.
Mas os chineses são resistentes, e aderem à internet de forma explosiva - o que para a microsoft, significa rios de yuans convertíveis em dólares a entrar nos cofres da empresa. Assim não supreende a colaboração da empresa no "reforçar" das defesas ideológicas chinesas, que passam por coisas tão simples como bloquear a palavra democracia nas pesquisas feitas na net.
Mais um triunfo do capitalismo desenfreado.
No Guardian de ontem, artigo de opinião de um deputado inglês a detalhar a forma como a BP (que detém aquela àrea de serviço aqui na ericeira tão popular para cafézinhos a meio da noite) construiu o novíssimo oleoduto transcaucasiano, que une os campos petrolíferos do Azerbeijão ao porto turco de Ceyhan. Um investimento de grande montante, foi construído da maneira habitual - com expropriações ilegais, sendo os camponeses turcos informados que se tentassem contestar as ridículas somas oferecidas pelos seus campos nem a isso teriam direito; completo desrespeito por considerações ambientais (por parte de uma empresa que se publicita como Beyond Petroleum, uma petrolífera verde e ecologista) e os habituais clientelismos políticos nos estados por onde passa o oleoduto, apoiados em chorudos lucros dos negócios petrolíferos.
Mais um triunfo do capitalismo desenfreado.
E cá entre nós? Nem vou falar das empresas que encerram, largando milhares de portugueses no desemprego para se "deslocalizarem" (termo novo) para paragens onde a mão de obra seja mais barata, os direitos dos trabalhadores de preferência inexistentes, logo com custos de produção mais baixos. Como estas coisas são círculos viciosos, cá voltamos nós à China...
Ministério suspende aulas e exige serviços mínimos (actualização)
Neste momento, no meu horizonte está a greve de professores que se avizinha. É uma greve que eu considero justa, e à qual vou aderir (e eu sou mesmo muito alérgico a greves). Desta vez, chega. Estou farto dos congelamentos salariais, dos congelamentos de progressões na carreira, e assustado com a perspectiva de reformas cada vez mais complicadas. Isto entre outras medidas governamentais tomadas à laia de sacrifício nacional para resolver um déficit financeiro criado por anos de clientelismos e más gestões. O sacrifício em prol do país até é um objectivo nobre, mas quando o sacrifício cai exclusivamente sobre nós...
Se não me engano, o direito à greve está contemplado na constituição portuguesa. Assim sendo, o governo avançou com requisições civis e suspensão de aulas para evitar que a greve afecte a realização dos exames nacionais do 9º e 12º anos - e, se a suspensão lectiva decorrer mesmo dos dias 20 a 23, conforme me pareceu pelos comentários da ministra da educação ontem na TV2, retirando a força à greve - ninguém se prejudica se os professores fizerem greve em escolas vazias, e o estado poupa um dia de salários.
Parece-me que todas estas medidas restritivas, os combates ao défice e os ataques à administração pública - que, não nos esqueçamos, coordena os importantes serviços públicos que são a justiça, a saúde, a segurança e a educação, se insere numa estratégia de implementação da ideia que está na moda - a superioridade do mercado livre. É uma ideia brilhante, que tem trazido lucros astronómicos a algumas empresas, um aumento do desemprego a nível mundial, um crescimento das desigualdades, devastação ambiental, e uma progressiva erosão dos direitos civis, sociais e laborais nas sociedades modernas - quer nos países em desenvolvimento, obrigados a restrições para serem paraísos para empresas deslocalizadas, quer nos países desenvolvidos, cuja política de empregos justamente remunerados e benefícios sociais é recompensada pela ganância de empresários em constante busca de maiores lucros. O que é que falta libertar para que o mercado livre triunfe lucrativa e devastadoramente? Os serviços sociais assegurados pelas administrações públicas. Para quando tribunais privatizados, saúde privada (já está a desenvolver-se), polícias privadas e extensão da educação privada (de nicho para ricos a obrigação para todos)?
Prepara-se mais um triunfo do capitalismo desenfreado.