Irmã, mulher e amante. Eis Ísis perante Osíris, o despedaçado e espalhado pela terra, para a fertilizar com a sua putrefacção. Essa mesma terra que cheira tão bem depois da chuva, um cheiro intensíssimo a vida, a viço e a verde. As cores têm cheiros (outros que os dos pigmentos), e o cheiro do verde é o cheiro da terra revolvida após a chuva. É o cheiro inconfundível das futuras colheitas.
Terá o deserto este cheiro, após as chuvas? Será que após algumas raras grandes chuvadas sobre o deserto se sente nos picos do Atlas este cheiro a terra revolvida, molhada?
O que seria realmente mágico seria o deserto explodir em verde após uma torrente de àgua.
E (inevitávelmente) com a explosão do verde sobre as dunas surgiriam exóticas arquitecturas de minaretes elevando-se em espiral em direcção aos céus azuis. (Inevitávelmente) se reflete que as mais apelativas marcas arquitectónicas funcionam como projecção fálica, torres elevando-se em direcção à vagina estelar, tentando semear os seus esporos além-terra, além espaço.
Regressamos a Nausicaa, a cidade mitológica que é uma cloaca onde se fundem os restos semi-putrefactos de todas as culturas? O que será agora? Uma viagem até às grandes fábricas da cidade, gigantescos meta-labirintos de tubos e maquinaria? Algumas dessas grandes fábricas fervilham de actividade, produzindo sem parar produtos que se destinam a serem automáticamente consumidos e destruídos. A permanência dos objectos de consumo não é permitida. Automóveis, computadores, telefones, televisores, todos os produtos industriais produzidos em Nausicaa são desenhados para se tornarem obsoletos ao fim de pouco tempo de uso, porque de contrário as fábricas eventualmente já não precisariam de trabalhar. Todas as necessidades seriam rápidamente preenchidas e não haveria necessidade de produzir mais, se os produtos não fossem construídos em função da sua rápida obsolescência. E todas as fábricas de Nausicaa teriam o mesmo destino, tornarem-se labirintos enferrujados, cobertos de plantas e palco dos voos dos pássaros que povoam Nausicaa.
Nas praças mais importantes de Nausicaa erguem-se pirâmides de automóveis e televisores, mausoléus dos produtos passados.
Os deuses vêem tudo isto, e regozijam-se. Todas as formas de viver em Nausicaa não passam, no fundo, de secretas e elaboradas formas de culto às miríades de deuses que velam sobre Nausicaa.