domingo, 17 de abril de 2005

Telelixo

Ontem acordei com um estranhíssimo sonho, ao qual certamente que não foi alheia a quantidade de alcool que degustei na noite anterior. Sonhei, simplesmente, que estava a ver/participar num novo reality show da televisão: o campo de concentração. O sonho desenvolveu-se como os sonhos normalmente se desenvolvem, com a sua surrealista lógica interna. Comecei por sonhar que o concurso era sobre que sobreviveria a um campo de concentração... mas antes que o meu cérebro me mergulhasse num violento pesadelo nazi, o meu sonho alterou-se para um concurso passado num antigo campo de concentração, onde o objectivo parecia ser explorar o campo de concentração, e talvez encontrar alguns esqueletos. O sonho foi mais ilógico e surrealista do que isto, mas... acordei a pensar no telelixo.

Só para referência: se os campos de concentração de auschwitz, tal como outros no continente europeu, são locais preservados para reflexão, para que não nos esqueçamos do que se lá passou, na àsia a coisa assume outra proporções. No Camboja, o governo alugou o campo da morte de tuol sleng, o imortalizado killing field, onde morreram milhares de cambojanos durante o sangrento e malfadado regime dos khmers vermelhos de Pol Pot, a uma empresa japonesa para... desenvolvimento turístico. Se a moda pega...

A verdade é que todos dizem mal do telelixo que povoa a televisão. Mas eu vou dizer bem.

Eh, eh.

Na verdade, o panorama televisivo é deprimente. Sempre que ligo um televisor, com a vaga esperança de ver um documentário, um filme, ou uma série interessante, percebo logo que se trata de uma vã esperança ao acender do ecrã. Geralmente sou bombardeado por telenovelas, concursos, ou programas tão bizarros e desinteressantes que resistem a classificações (chamam-lhes talk shows). Cada vez menos são transmitidos em sinal aberto, gratuito para o telespectador, programas enriquecedores. Claro, se estiver disposto a pagar, tenho todos os documentários que quiser nos canais de cabo. É um assunto que não deixa de ter algum interesse em desenvolver, este acesso pago a conteúdos culturais.

De facto, o panorama televisivo é tão mau, tão mau, que nem vale a pena ter o televisor ligado. Resultado: menos poluição visual, mais tempo para ler, navegar na net e ouvir música. A desculpa da televisão como meio para queimar uns minutos quando a cabeça está exausta não pega; nada que um livro ou uma revista não curem. e se estivermos mesmo cansados, não há nada como tentar ficar de cabeça mesmo vazia. É relaxante.

É por isso que o telelixo me faz bem. O tempo que não gasto a ver tv torna-me a vida mais interessante.