Mongol Devastations
A internet tem destas coisas. Ao permitir o acesso à informação, permite-nos descobrir opiniões e ensaios que, por serem publicados em jornais e revistas estrangeiros, normalmente só com muita dificuldade os leríamos.
É o caso deste brilhante ensaio, que se atreve a tirar algumas conclusões sobre alguns aspecos muito negativos da segunda guerra mundial. Quando pensamos em segunda grande guerra, equacionamos logo os acontecimentos históricos como uma luta titânica entre o bem e o mal, entre os ultracriminosos nazis e os sacrossantos aliados. E, de facto, são inegáveis os crimes cometidos pela alemanha nazi, desde as agressões militares ao hediondo holocausto. Mas a questão levantada neste ensaio, e raramente abordada nos milhentos filmes heróicos sobre a II guerra, é que os aliados cometeram atrocidades, muitas vezes desnecessárias, para vencerem a guerra. Os casos dos bombardeamentos de Dresden e Hiroxima são os exemplos destacados de atrocidades atrozes e desnecessárias para a vitória em combate.
Já em finais de 1944, princípios de 1945, as máquinas de guerra alemã e japonesa se encontravam, se não dizimadas, pelo menos extremamente enfraquecidas. A vitória era uma questão de tempo, especialmente num teatro de operações europeu em que os restos da wermacht se encontravam enclausurados pelo avanço inexorável dos soviéticos a leste e dos americanos e ingleses a oeste. A oriente, o Japão pedia encarecidamente à União Soviética, através de canais diplomáticos, o fim da guerra, enquanto os americanos se aproximavam cada vez mais das ilhas japonesas. Em Dresden, com as tropas soviéticas a menos de 100 km da cidade, bombardeiros ingleses e americanos lançaram um devastador ataque com bombas incendiárias, que consumiu a cidade e dezenas de milhar dos seus habitantes num inferno de fogo. Dresden não era um objectivo militar prioritário. E, no Japão, são sobejamente conhecidas as razões dadas para a detonação nuclear em Hiroxima. A pergunta que se põe é: porque é que estes ataques de destruição macissa foram lançados, se as forças militares dos alvos se encontravam práticamente dizimadas?
A resposta à questão está na União Soviética, e na guerra fria que dominou o mundo durante 40 anos, até aos acontecimentos da queda do muro de Berlim e o colapso da União Soviética. A verdade é que os aliados, sózinhos, não estavam a conseguir vencer a guerra. Foi a União Soviética de Estaline que permitiu os acontecimentos do Dia D, e todas as vitórias militares consideradas decisivas pelos aliados. O que levanta outra questão: como é que um país que, em 1941, é práticamente derrotado pela wermacht consegue dar uma dontribuição decisiva para o fim da guerra? Os vinte milhões de mortos soviéticos são uma das respostas. Os dez mil milhões de dólares gastos pelos ingleses e americanos em equipamento militar (tanques, aviões e outras máquinas de guerra) dado à União Soviética são o resto da resposta. O que significa que, no fim da II guerra, com o conflito geoestratégico entre Comunismo e Capitalismo democrático a desenhar-se sobre as ruínas da europa, tínhamos de um lado os tradicionais aliados, industrialmente fortes mas militarmente fracos, e um colosso soviético com milhões de homems em armas e a vontade de desperdiçar mais vinte milhões de vidas, se fosse caso disso.
É neste contexto de fim de guerra que se dão os bombardeamentos de Dresden e Hiroxima. Aclamados como um mal necessário para derrotar alemães e japoneses, o objectivo real destes raides foi dar um aviso a Estaline: não temos milhões de homens para desperdiçar, mas temos milhares de bombardeiros capazes de icinerar cidades inteiras, e uma super bomba que, sózinha, faz o trabalho de milhares de bombardeiros.
O resto é história. Rendição alemã, alemanha dividida, rendição japonesa, cortina de ferro, china comunista, guerra da coreia, vietname, afeganistão… até à queda do império soviético. Terá a II guerra terminado em 1945, ou em 1991?
É altamente tentador ver a segunda guerra em termos absolutos, de conflito entre o bem e o mal. Se a verdade é que a Alemanha Nazi foi responsável por Auschwitz, e o Japão imperial por Nanking, o lado do bem também não tem uma face muito limpa.
Hoje em dia, com um novo papa ainda muito ligado aos acontecimentos da II guerra, e com o sexagésimo aniversário do fim da II guerra (1945 - 2005, topam?), estes ensaios ajudam-nos a perceber os acontecimentos de 1939-1945 como profundamente complexos, já longe das ideologias absolutas que tanto mal fizeram no século passado.
E é essa a beleza deste novo século. Em vez de ideologias absolutas, temos um mundo de ideias quânticamente complexas. É fácil e tentador olhar para o mundo a preto e branco. Mas não nos deixemos cair em tentação - olhemos para o século passado, e para o que significou o mundo a preto e branco das ideologias.