sexta-feira, 22 de abril de 2005

100 tempo

Sem tempo é um sentimento que me persegue ultimamente. Especialmente com esta treta que é dar aulas de tarde.

Há alturas em que temos tempo para tudo. As horas passam preguiçosamente e nós deixamo-las passar, langorosos e relaxados. E há alturas em que o ponteiro dos segundos bate estrepitosamente, a lembrar-nos que o tempo está a passar em passo de corrida bem acelarado.

Agora estou mais nesta segunda opção temporal.

A culpa disto, parece-me, está não só nas ocupações que se tem, mas também em ter de trabalhar só de tarde, este ano lectivo. Um típico dia em que trabalhe de manhã (logo às oito, para pôr a adrenalina a mexer no corpo), tem este ritmo: acordar para aí uma hora, hora e meia antes do necessário, para dar tempo a um tranquilo e recheado pequeno almoço salpicado de leituras; uma curta mas sonora viagem até à escola, um café e um cigarrinho antes da aula, a saber melhor com o frequinho da manhã; trabalhar no duro, a dar aulas e a fazer tudo o que um prof tem de fazer para além das aulas; almoçar. À tarde, depende. Poderá haver aulas de tarde, ou não. Mas de qualquer maneira, a tarde fica mais liberta para uma sestazinha (para retemperar forças mentais), seguida de um bom momento de leitura; há tempo para trabalhar, quer no blog, quer a desenhar, quer a preparar algum trabalho com os alunos; depois prepara-se um belíssimo jantar, e o serão fica reservado para um cafézinho com os amigos, umas leituras ou, naquelas raríssimas ocasiões em que passa algo de mínimamente interessante na tv, um bocadinho de tempo a ver a idiot box.

Assim o tempo rende. Há tempo para trabalho e para lazer. O lazer não se fica por sessões mentecaptas de televisionamentos de lixo cultural, e o trabalho não se fica pela rotina que paga o salário que paga as contas. Há tempo para pensar e criar.

Agora um dia com aulas de tarde... manhã: acordar estremunhado mais tarde do que deveria. Saber que só se começa a trabalhar às três é uma belíssima desculpa para preguiçar na cama. Saltar para o computador, ou porque são precisos documentos para escola, ou para finalmente passar para o blog aquela ideia que estou a ruminar há dias (ou semanas); tempo de fazer almoço, um trabalho ingrato, pois o afinco que se põe na preparação da comida empalidece perante a velocidade com que a comida é deglutida (nem chega a ser saboreada). Correr para a escola. Ao menos, o meu cigarrinho com sabor a café antes de uma aula ninguém me tira. Terminar um dia (tarde) de aulas ao pôr do sol, completamente derreado, demasiado cansado até para responder aos comentários da praxe: "cansado porquê? só trabalhaste três horas de tarde..." O cérebro pensa "e o resto????", mas os músculos faciais estão demasiado cansados para articular a reposta. Um jantar é preparado em modo de exuastão, e o serão implica mais trabalho. Antes do dia terminar oficialmente, o cérebro está invadido por um cansaço terminal. Isto num dia normal. Se por acaso há alguma exigência extra, tipo algum assunto a tratar, ou um trabalho mais complexo, o caos instala-se definitivamente.

Como hoje. Converti animações para video enquanto fazia o almoço. É sempre bom ser multifacetado...

E finalmente sexta-feira, penso, com aquele ar triste de quem sabe que na segunda tudo recomeça novamente. Omnia mutantur, nihil interit