terça-feira, 29 de março de 2005
Névoas no horizonte
O fio do horizonte está um bocadinho atrasado. Estas imagens são de ontem, dia em que o nevoeiro se abateu sobre a ericeira, submergindo toda a região numa espessa camada de um cinzento leitoso. Os pontos luminosos que se podem ver na fotografia não são ovnis, nem fantasmas. É o reflexo do flash da máquina nas gotículas de àgua em suspensão no ar.
Ao cair da noite, a espessa camada de nuvens quase tornava indistinguível o mar do céu. O mundo, visto da minha janela, apresentava-se em tons escuros.
Existe um livro intitulado voyages au tour de mon chambre, cujo autor me escapa, mas que se não me falha a memória é citado por Almeida Garrett nas Viagens na Minha Terra. Viagens à volta do meu quarto, ou como viajar sem sair de lado nenhum. Físicamente, claro. A mente tem essa faculdade, a de viajar nas asas da imaginação. E, por vezes, o mundo interior é infinitamente mais rico do que os desertos que existem lá fora.
E lá fora está tudo submerso. Foi ao descobrir os belos efeitos visuais dos bancos de nevoeiro que percebi o título do livro Manhã Submersa. Livro que nunca li. Mas vi o fantástico filme do John Carpenter, The Fog. Ainda se me arrepia a espinha ao ver o nevoeiro a invadir, a inundar as ruas da cidadezinha amaldiçoada no filme.
Desloquemos o fio do horizonte para a malveira. Pergunto-me: dentro de quanto tempo esta imagem já não existirá, transformada pelo que quer que o futuro nos reserve (o futuro, com essa imaginação perversa que demonstra)? No fim de contas, ainda me lembro quando havia um jardim onde hoje passam carros. Estarei a envelhecer, ou é o nevoeiro que me torna nostálgico?