sexta-feira, 11 de março de 2005
Leituras: Hello America
Hello America
Análise à obra de Ballard
J.G. Ballard and the Cold War
Bibliografia de Ballard
Capas dos livros de Ballard
Hello America - J. G. Ballard. A Caminho, na sua saudosa colecção azul de livros de ficção científica, publicou uma tradução portuguesa.
Num futuro próximo, uma expedição arquelógica chega às ruínas abandonadas de Nova Yorque. A américa é uma terra abandonada. Existe ainda um governo americano exilado, com cidadãos espalhados pelas cidades euroasiáticas. Mas a américa do norte, terra feérica dos estilos de vida impossíveis, foi abandonada. Neste novo mundo, uma imensa barragem trava o oceano àrtico no estreito de bering, tornando a sibéria e a àsia central em terras férteis, mas transformando o norte da américa num deserto, e os antigos desertos americanos em florestas luxuriantes.
E assim aporta a expedição a uma manhattan coberta por areias. Por entre as dunas ainda é visível a tocha petrificada da estátua da liberdade.
Uma avaria no navio da expedição obriga os cientistas a atravessar a américa até às colónias sul-americanas na zona da califórnia, de onde poderiam regressar à civilização.
É numa terra feérica, numa paisagem de sonho de cidades desertas e auto-estradas abandonadas, cheias de restos fossilizados de automóveis abandonados, que as neuroses interiores e os desejos reprimidos dos membros da expedição começam a revelar-se. Livres dos constrangimentos da civilização euroasiática, por entre os restos de uma civilização hedonista, a pátina da civilização começa a desvanecer-se.
Por entre as ruínas de uma américa da abundância, os cientistas encontram tribos de nativos americanos, remanescentes primitivos de uma civilização exilada, que pelos seus nomes e objectos com simbologias esquecidas mantêem uma ténue recordação dos conglomerados industriais de uma américa desaparecida.
O acumular de neuroses oníricas dá-se no meio das florestas tropicais do arizona e nevada, onde se ergue o monumento maior ao american way of life: a cidade de Las Vegas, que se ergue no meio do arvoredo não como uma pirâmide egípcia esquecida ou um templo maia abandonado nas selvas, mas sim como uma cidade viva, habitada por jovens mexicanos, dominados por um americano que se intula Howard Hughes e que pretende restaurar o american way of life da coca-cola, cinemas, cadillacs e pastilhas elásticas com armas nucleares.
Dominados pelos seus desejos ocultos, presos à loucura de Howard Hughes, as personagens desta comédia surrealista nostálgica de uma américa idealizada consomem-se por entre as luzes brilhantes dos casinos abandonados.
Hello America