Fala-se muito em portugal do mau estado do sistema educativo. Todos dizem mal, e todos apostam em mais dinheiro, em formação de professores, novos métodos pedagógicos, reformas curriculares, e, perante o quase falhanço de todas estas medidas, intervenção divina. Pelos vistos, só com milagres.
Mas esquecemo-nos do mais óbvio - o próprio espaço escolar. A grande maioria das escolas onde passei eram autênticos pardieiros. Salas desadequadas, espaços degradados. Autênticos bunkers cinzento-sujo, com salas escuras, com condições mínimas. Salas de aula com tanta humidade que, no inverno, os trabalhos de pintura não secavam. Salas de aula onde, por razões de segurança, a àgua das torneiras está cortada - se não o fosse, a electricidade teria de ser cortada. Quadros de electricidade abertos, expostos às brincadeiras dos miudos.
Isto, para não falar da própria arquitectura dos espaços escolares. Prevalece o cimento, prevalecem espaços desadequados com poucas condições de segurança - escadas em cimento com poucas protecções, janelas com arestas vivas, falta de espaços interiores de lazer (quando chove, os alunos geralmente abrigam-se em telheiros). Escolas inadequadas às condições climatéricas - fornos no verão, congeladores no inverno.
E são estes os espaços onde os nossos alunos passam grande parte dos dias mais fulcrais para a sua formação como pessoas. Pardieiros.
Tempos houve em que a pobreza geral do país justificava a pouca manutenção das escolas existentes e a construção apressada de escolas de baixa qualidade arquitectónica. Mas esses tempos já passaram.
Quando fui votar, depositei o meu voto no clássico liceu Filipa de Lencastre, no coração de Lisboa. Num bairro renovado, com as casas construídas nos anos 40 a brilharem, o liceu era um desastre - sujo, mal equipado, com um soalho de tábuas que devem datar da construção do edifício. Não é excepção à regra. Pelo contrário, é a regra.
Educamos mal os nossos alunos. Boa parte da educação, a que fica, é informal - é o exemplo que damos, o que se passa fora da sala de aula, fora do âmbito de programas e planificações.
E as condições dos espaços escolares representam um tremendo risco de segurança para as crianças. Quantos joelhos esfolados, quantos braços partidos não se evitavam com uma atenção mais cuidada na manutenção e construção dos espaços escolares? Há poucas horas atrás, numa aula minha, um aluno meu sofreu um acidente perfeitamente evitável, devido à arquitectura do espaço escolar. Ao sair da sala para ir buscar materiais para ajudar na limpeza da sala, bateu com a cabeça na aresta viva do caixilho de uma janela que se encontrava aberta. Felizmente, foi pequena a mossa. Mas poderia ter sido gravíssimo.
Queixamo-nos tanto da educação. Mas não nos importamos de dar aulas em locais onde jamais aceitaríamos viver, mas onde as nossas crianças têm forçosamente de viver todos os dias.