Zombie em transformação
Confesso aqui um dos meus vícios mais secretos: filmes gore, de preferências filmes com zombies.
Estes filmes são, provávelmente, os mais básicos e absurdos de todos os géneros de filmes de terror. As histórias são simples - súbitamente, devido a um acidente nuclear/contaminação biológica/infiltração alienígena/maldição primitiva, os mortos levantam-se e passam a atacar humanos para se alimentarem. Há sempre um grupo de sobreviventes que reúne alguns recursos e muitas armas para sobreviver e combater os zombies que, previsívelmente, podem apenas ser derrotados através de danos massivos à cabeça. E é aqui que as coisas começam a ser interessantes, com os realizadores, argumentistas e especialistas em efeitos especiais a esmerarem-se para apresentarem as mais repulsivas formas de eliminar zombies (tiros que fazem explodir a cabeça, machadadas, explosões, motosserras, enfim, estão a ver...).
Os filmes de zombies têm o seu quê de apocalíptico, com bandos de humanos a sobreviverem a uma total desagregação social, espelhando os elementos dos grupos todos os vícios que afligem a humanidade - egoísmo, violência, nihilismo, sede de poder - bem como o lado mais positivo do ser humano - a bondade, a entreajuda, o espírito inventivo e a capacidade de resolver problemas à partida impossíveis. Claro que os elementos que espelham o lado negro da humanidade geralmente terminam como refeição para zombies.
Os zombies não passam de mortos-vivos, criaturas mortas a que alguma das causas que já referi mantém algumas funções motoras e o apetite por carne fresca. A única coisa imaginativa nos zombies são as maquilhagens - não têm personalidade, limitando-se a vaguear em busca de refeições até se desfazerem em montes de carne pútrida, atacando qualquer humano ainda vivo à dentada. Só são elimináveis através de danos massivos à cabeça - cortar as pernas, braços e torsos não imobiliza um zombie, o que dá muitas ideias macabras aos especialistas em efeitos especiais... os personagens humanos destes filmes dedicam grande parte do tempo a eliminar estas criaturas das formas mais sangrentas possíveis.
Sendo mortos, os zombies apresentam três tipologias - tipo um, muito sangue e feridas expostas, tipo dois, sangue e feridas secas, com necrose dos tecidos, e tipo três, básicamente montes de carne putrefacta ambulante. O como, deixa-se com as ideias macabras aos especialistas em efeitos especiais.
Mais zombies
Filmes, ok. Há imensos filmes de zombies, dos quais vi uma minoria. Os primeiros filmes do Peter Jackson (esse, da trilogia Senhor dos Anéis) como o Braindead são filmes gore, com zombies à mistura. Danny Boyle, autor do Trainspotting, realizou recentemente o interessante 28 Days, uma homenagem apocalíptica a todos os filmes gore. A mítica trilogia de George Romero, Night of the Living Dead, Dawn of the Dead e Day of the Dead deu início ao género, e ainda são os melhores filmes do género. Todos os outros apenas imitam estes três filmes. Também destacaria a divertidíssima trilogia Evil Dead de Sam Raimi, que começa como clássico filme de terror low budget (daqueles filmes em que todos os personagens têm medo e são mortos por monstros invisíveis, nunca filmados - não havia dinheiro para efeitos especiais) e termina a autoparodiar-se de forma apocalíptica. Recentemente, surgiu um remake do Dawn of the Dead com mais efeitos especiais, mas menos interessante do que o original (o Dawn of the Dead original têm uma cena brilhante, com os zombies a vaguearem por um centro comercial - só um cego não detecta aqui humor corrosivo). Há também os filmes (que nunca vi) realizados e produzidos por Dario Argento, como o Suspiria, considerados como do melhor (leia-se mais sangrento e horripilante) que se faz no género gore.
Porquê? Porquê este gosto por este subgénero de cinema? São entretenimento gratuito, sangrento, completamente desprovidos de sentido, moralidade e bom gosto. E divertidos.
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