sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Profissão II

A mania das avaliações tem destas coisas. Recentemente ouvi que uma escola houve em que a representante dos encarregados de educação sugeriu veementemente que os professores da referida escola deveriam ser avaliados pelos encarregados de educação dos seus alunos.

Não sei se foram sugeridos critérios de avaliação.

(por razões óbvias, não vou divulgar a escola onde isto se passou. E não, não é a escola onde lecciono. É até bem longe da ericeira.)

Ocorreu-me que talvez os ladrões possam avaliar os polícias. E outras comparações similares.

Não que eu me oponha a ideias de avaliação (desde que sem exageros). Os professores prestam um serviço público, e, como tal, somos responsáveis perante o resto da sociedade. Mas uma avaliação feita pelos encarregados de educação abre demasiadas hipóteses de abusos de confiaça, conflito de interesses e falta de isenção. Se eu for avaliado pelos encarregados de educação dos meus alunos, serei capaz de tomar as difíceis decisões que por vezes os professores precisam de tomar, ou serei influenciado? Seria capaz de dar uma avaliação negativa?

A pressão que os encarregados de educação já exercem sobre os professores é muito grande. Por vezes, apetece perguntar se quando os filhos não conseguirem um emprego por falta de qualificações, os encarregados de educação vão exigir aos patrões um emprego para os filhos, armados com relatórios psicológicos e rétoricas ameaçadoras. Isto já acontece com os professores, quando por vezes se torna necessário reter um aluno no mesmo ano de escolaridade (vulgo "chumbar") por manifesta falta de competências e aprendizagens, e os encarregados de educação fazem tudo para recorrer da decisão, por vezes com ameaças físicas. Agora imaginem que esses encarregados de educação poderiam avaliar o professor... que bela arma teriam ao seu dispor!

Não é que os professores não devam ser avaliados. Mas devem sê-lo pelos seus pares.