sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Iraque - Irão

THE COMING WARS

O artigo da New Yorker

Surgiram esta semana nos media notícias altamente alarmantes: Seymour Hersh, jornalista da New Yorker (uma pequena revista, cuja audiência básica se cifra por volta dos 10 milhões de leitores, e um marco de excelência jornalística e editorial), contava num artigo como a administração Bush planeava dar ao Irão tratamento semelhante ao que deu ao Iraque. Tratamento esse que, como todos constatamos pelas notícias diárias de atentados, raptos e emboscadas, passaria por uma fantástica invasão militar, com as armas de alta tecnologia em ponta de lança a fornecerem gloriosas imagens para os telejornais, seguido de um atoleiro social e político, chamado de paz.

Só me pergunto se os jornalistas que prepararam as notícias sobre a possível invasão ao Irão (completas com ameaçadores comentários fora de contexto de George Bush, o grande ogre) se deram ao trabalho de, realmente, ler o artigo da New Yorker. Devem tê-lo feito, mas provávelmente só destacaram a parte sensacionalista: a vontade de invadir o Irão.

A verdade, descrita pelo artigo, é menos sensacionalista, mas muito mais assustadora. É público e notório que os falcões de guerra que orbitam em Washington adorariam lançar mais uma guerra. Frustrações, provavelmente, dos tempos de infância em que os pais destes falcões não os deixavam brincar com soldadinhos de chumbo. Mas o que realmente assusta é a forma insidiosa como se planeia levar a guerra a outros países, em nome da guerra contra o terror.

De forma secreta. Através de operações especiais, conduzidas com máximo de secretismo.

Há grandes fãs dos filmes do James Bond, 007, nos bastidores da política norte americana, esse gigante cujos tremores nos trazem tão grandes consequências.

Guerra é guerra. Nada de bom daí advém. Mas o que está planeado, e, ainda mais grave, já em movimento, é guerra suja, honestamente desprovida de quaisquer conceitos de humanidade, honestidade, decência e respeito pelos direitos humanos. Uma guerra insidiosa, não declarada, com equipes de soldados de forças especiais a infiltrarem e a sabotarem instalações suspeitas nos países considerados por Washington como potenciais alvos. Países esses que são, por vezes, aliados dos americanos.

Guerras sem lei, em nome do benefício da legalidade e da justiça. Tal como a economia sem coração, em nome do benefício da humanidade. Seremos nós cegos, e não conseguimos ver o terrível mundo que estamos a criar? O que está a acontecer às conquistas sociais e legais conseguidas no século XX, esse século tido como terrível e sangrento, mas também aquele que mais benéfico foi para a humanidade?