sexta-feira, 28 de janeiro de 2005
Erik Satie
Eric Satie por Jean Cocteau
Algumas peças de música ultrapassam o belo e entram no campo do sublime.
Escrevo isto e lembro-me da Missa em si menor de Bach, para mim um símbolo maior do sublime e da perfeição musical. Se me permitirem a morbidez da comparação, já se pode morrer em paz depois de ouvir a Missa em si menor. É um pináculo. Não há melhor, nem maior perfeição.
O que não quer dizer que não haja outros pináculos, outras pérolas de perfeição artística. Recordo-me logo do air, ou das Variações Goldberg de Bach. Da Arte da Fuga. Bach novamente (admito, sou viciado em Bach). Recordo-me do Cânone de Pachelbel.
Ou da Sinfonia Pastoral de Beethoven. Apaixonei-me pelos seus acordes bucólicos mal a ouvi pela primeira vez.
Os ecos do Lamento de Ariadne de Monteverdi nunca deixaram de me atormentar, e é esta a palavra correcta - ouvir lasciate-me morire, lamento lancinante, arrepia.
O clarinete ondulante, sensual e provocante da Rhapsody in Blue de Gershwin também arrepia, mas pela sua sinuosidade e alegria de viver.
Mas estou a dispersar-me. Queria mesmo é falar das Gymnopédies de Erik Satie. Que são umas daquelas peças musicais que todos conhecem, mas ninguém sabe quais são.
As Gymnopédies (n° 1, lent et doloreux, n° 2, lent et triste, n° 3, lent et grave) são três peças para piano escritas por Erik Satie em 1888 e orquestradas por Debussy. O nome faz referência a danças atléticas em honra do deus apolo, costume espartano praticado por homens e rapazes (sim, é detectável uma insinuação homosexual).
São três peças de uma rara beleza, elegantes e melancólicas. Os acordes de piano soltam-se, ressoam, flutuam com uma leveza etérea.
Satie descrevia-se não como um compositor, mas como um phonometrógrafo - alguém transcreve sons.
Satie, músico do cruzamento entre o século XIX e o século XX, escreveu inúmeras peças definidas como música-mobiliário - música para ser ouvida em pano de fundo. Compositor excêntrico - diáriamente, saia da sua casa em Arcueil e atravessava Paris até Montmartre ou Montparnasse, fundou o seu próprio credo religioso (com um só fiel - ele próprio), compôs com Picasso e Diaghilev (dos Ballets Russes) um bailado - Parade - que incluía trechos para máquina de escrever e sirene de nevoeiro.
Biografia
Classical Cat - as Gymnopédies para download
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