terça-feira, 9 de junho de 2015

Ficções

O Último: Neste conto de Joel Puga um imortal sente a dura passagem do tempo, após a extinção da humanidade para transição espiritual nas guerras entre deuses e demónios. Aguarda, numa casa repleta de livros, recordando o ascético vampiro que lhe conferiu a imortalidade há milénios atrás, preparando-se para defender a sua individualidade do assalto final dos exércitos demoníacos. Interessante, o ambiente soturno que o autor estabelece neste conto.

Cousins from Overseas: tradução para inglês de um conto de história alternativa do brasileiro Gerson Lod-Ribeiro, que imagina o que aconteceria se o Brasil se tivesse mantido uma monarquia e se em Portugal o assassinato do rei D. Carlos não tivesse chegado a acontecer. Estamos nos primeiros tempos da Segunda Guerra e o Império Brasileiro, um dos aliados, acolhe o rei português refugiado após uma invasão de Portugal continental por forças combinadas da Espanha franquista e da Alemanha nazi, retaliação do recém-vencedor da guerra civil pelo apoio dado às facções monárquicas. Mais do que a história em si, passada numa caçada nas selvas da amazónia, vale pelos voos especulativos sobre a plausibilidade de possibilidades históricas, que espicaçam (e muito) a imaginação do leitor.

Hello and Goodbye in Portuguese: Conto de Joel Jonhson, destacado pelo Boing Boing e que vale não pela qualidade literária, bastante normal, mas pela forma como enquadra os desafios trazidos pela automação aos mercados laborais dominados pela meritocracia neo-liberal. Num futuro não muito distante o progresso da automação é tal que existem apps que medem o momento em que a sociedade humana fará a transição para a automação total, com robots a substituirem todos os trabalhadores. A história em contada em diálogo, entre uma entediada dona de casa afluente que já pertence à elite que vive de rendimentos e não precisa de trabalhar, e um dos inúmeros trabalhadores que, perante a progressiva substituição por robots, vê as carreiras que lhe asseguram subsistência medirem-se cada vez mais em meses, semanas ou até dias, perguntando-se como irá sobreviver até a humanidade entrar numa prometida utopia onde a cornucópia das riquezas geradas pelos robots permitirá a todos viver confortavelmente. Algo inatingível, porque as velhas forças de acumulação de riquezas estão mais pujantes do que sempre.