segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Olhar não Mente



Peter Kuper, Mind's Eye, Nova Yorque, NBM Publishing, 2000

Peter Kuper | Site Oficial
Comic Creators | Peter Kuper
Peter Kuper | This is not a

Se há desenhadores que me deixam verde de inveja, Peter Kuper é o maior de entre eles. Dono de um traço sincrético, expressivo num glorioso preto e branco, dono de uma imaginação perversa, e capaz de contar uma história em banda desenhada sem recorrer a artifícios básicos como balões e cartuchos, em suma, de criar B.D. pura, em que a história é contada pela justaposição das vinhetas, sem qualquer texto para além do título. Descobri Kuper através do brutal comic The System e do excepcional Kafka Desiste! E outras Histórias, a adaptação de contos do autor decadente checo por Kuper.

Através daquelas mini feiras do livro que as livrarias promovem em agosto para se livrarem daqueles livros cujo único destino é a reciclagem, após algum vasculhar pelo joio, descobri uma edição de 2002 de Peter Kuper, uma colectânea de cartoons intitulada Mind's Eye.

Quando pensamos em cartoons, o que nos vem à cabeça são os eternos garfield ou snoopy, ou aqueles livrinhos de capas garridas que disputam espaço de prateleira com as obras de banda desenhada, com títulos anódinos como adivinha quem vem aí (sobre bébés) ou garfield viva a amizade. Estão a ver o estilo, desenhos simpáticos, sempre muito semelhantes, figuras gorduchinhas de ar estilizado e narizes redondos, piadas com alguma piada que arranacam um sorriso e logo se esquecem. Dilberts e coisas semelhantes. Não há nada de mal neste género de cartoons. Leiam, que não perdem nada. Mas este género empalidece perante os de Kuper, apresentados como puzzles visuais.

Uma prancha contém quatro singelas vinhetas, com quatro situações que nos obrigam a tentar perceber a lógica que une imagens tão díspares. A lógica só é revelada na pranha seguinte, escondida pelo virar da página, e asseguro-vos que é sempre inesperada. O humor corrosivo de Kuper, ou a sua aguda consciência social, atinge-nos como um murro ao percebermos a lógica tortuosa que as primeiras vinhetas apontavam.

Tenho o livrinho aqui ao lado, e o scanner mesmo ao pé. Acho que me vou dedicar a digitalizar este livro. Bem sei que estou a quebrar uma parga de leis de direitos de autor, uma vez que não seria nada má ideia colocar as imagens no blog. Mas que se dane. Considerem publicidade gratuita. Afinal de contas, quem é que conhece Peter Kuper aqui neste jardim à beira mar plantado?