quarta-feira, 30 de julho de 2014

The Collapse of Western Civilization


Naomi Oreskes, Erik Conway (2014). The Collapse of Western Civilization: A View from the Future. Nova Iorque: Columbia University Press.

Esta é uma versão expandida para livro de um artigo científico muito interessante que aproveitou a ficção científica como forma de reflectir sobre as problemáticas ambientais. O tom especulativo mantém-se, tal como a reflexão sobre aquele que é o maior paradoxo contemporâneo.

Vivemos hoje o maior desafio e ameaça à escala global de sempre desde os tempos da guerra fria. Com a variante que nesses tempos a ameaça de destruição global dependia do acto consciente do carregar nos botões que disparariam as armas nucleares e esta ameaça que enfrentamos, do aquecimento global, manifesta-se de forma gradual e cada vez mais intensa, dependendo de decisões de hoje que só mais tarde surtirão efeitos. Sabemos quais as suas consequências à escala planetária, desde a escassez de recursos naturais à subida do nível das águas do mar que irá alagar as zonas costeiras. E o que fazemos para mitigar e travar essa ameaça? Preocupamo-nos com o bem estar dos mercados e alimentamos a importância da eficiência nas transferências de capital para gerar lucro a curto prazo, presos a um neoliberalismo alastrante que para além de contribuir para agravar o problema global ainda tem como bónus adicionais o fazer crescer as desigualdades económicas e sociais, empobrecendo a maior parte enquanto enriquece para lá do imaginável uma elite restrita.

É uma história que se contada só dá vontade de gritar estúpidos! aos personagens, mas de facto estamos a vivê-la. Este livro é uma forma elegante de pôr o dedo nas feridas, apontando para as consequências da inércia, criticando os contrapontos vindos de sectores intelectuais directamente financiados por aqueles que têm mais a ganhar com a manutenção do corrente estado das coisas, discutindo a cegueira ideológica que coloca a fé num conceito distorcido de mercado livre, ignorando os desvios induzidos por grupos de interesse e proclamando um optimismo assente na fantasia ideológica alimentada pela ganância.

Oreskes e Conway falam-nos de um futuro em que a civilização ocidental colapsou sob o efeito do aquecimento global, e não é um voo de imaginação nada implausível. O que salva a humanidade é o planeamento central chinês, que ao se esquivar às leis do mercado continuou o investimento em tecnologias verdes enquanto os paladinos do mercado livre incentivavam a queima de combustíveis fósseis. Tirando a extrapolação futurista isto é a realidade hoje, apesar da UE ainda não ter decaído o suficiente no neoliberalismo para retirar os incentivos às energias alternativas. O derreter das calotas polares faz subir o nível médio dos oceanos em cinco metros, o que alaga as principais cidades europeias e americanas (os autores não falam muito do resto do mundo) provocando o colapso de nações cujos territórios passaram a ficar submersos. O exemplo da Holanda reduzida a ilhas, com os holandeses refugiados na escandinávia, é o exemplo que abre o livro.

A crítica à cegueira dos mercados, ao cinismo do neoliberalismo e à desregulamentação e não intervenção estatal em áreas cujo interesse publico ultrapassam a esfera da economia de lucro rápido são também alvos de críticas acérrimas. Mas, em essência, esta mistura de ciência com ficção é um enorme j'accuse, apontado à cretinice colectiva de uma sociedade que vai alegremente caminhando para o colapso.