quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

The Hidden


Richard Sala (2011). The Hidden. Seattle: Fantagraphics.

Foi algures por entre a blogoesfera que me cruzei pela primeira vez com o trabalho de Richard Sala. Recordo-me de fortes ilustrações a preto e branco que misturavam a iconografia de terror com uma candura infantil, num estilo muito pessoal a remeter para uma sensibilidade mais de bande dessiné europeia do que comic americano. Este The Hidden sublinha o carácter inocente do terror pela mão de Sala com uma história pós-apocalíptica que se destaca por um olhar surreal e onírico, ao invés das habituais destruições avassaladoras que caracterizam o sub-género de histórias passadas nos dias seguintes aos apocalipses.

As causas do fim da humanidade nunca são totalmente explícitas. Vemos monstros a emergir do nada e a destruir cidades em vinhetas que remetem para Chagall. Vemos sobreviventes que após contarem as suas histórias de sobrevivência com monstros sanguinários (mas de ar tão inocente e encantador na sua monstruosidade, como Quasimodos sorridentes!) se aliam a um personagem misterioso, decalcado de Viktor Frankenstein. Refugiados numa casa remota, perto do laboratório do médico que quis ser um criador deísta, rodeados de monstros, lá se percebe que as criações de Frankenstein aperfeiçoaram o processo de retorno à vida e estão a tomar conta do mundo, escravizando a humanidade como fonte de peças sobresselentes. Tudo isto contado com uma candura assinalável, sublinhada pela escolha tipográfica de um tipo de letra manuscrito. Homenagem sincera ao horror clássico, The Hidden encanta pela sua simplicidade.