quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Freaks Circus



Serge Mas (2009). Freaks Circus.

Dois conceitos que nunca pensei vir a usar na mesma frase: space opera steampunk. Visões oníricas de um passado industrial que nunca existiu e panoramas futuros de expansão galáctica parecem elementos incompatíveis, mas a virtude deste Freaks Circus é mostrar que no mundo da ficção não há incompatibilidades conceptuais, apenas boas construções de mundos ficcionais ou tentativas falhadas. Serge Mas ilustra uma história pouco coerente com elementos iconográficos da belle époque misturados com cinematografia clássica. Para além da homenagem a Freaks de Todd Browning notam-se influências directas de Metropolis, Meliès e pintura orientalista do século XIX. Nesta bande dessinée os homens-monstro deformados do circo convivem com andróides similares a Maria. Até os aguerridos selenitas de Voyage dans la Lune dão o seu sangrento pézinho de lança. Os adereços decalcados a Júlio Verne ajudam a criar um ambiente de ucronia, num tempo que mistura o futuro espacial com o passado da viragem de século, onde canhões colocam cápsulas no espaço e a sociedade se estabelece por linhas vitorianas.

A narrativa é pouco fluída, cheia de sobressaltos inexplicados e não muito coerente. Acompanhamos um circo de aberrações que ajuda uma rapariga a reencontrar o seu pai. A história da triste órfã perseguida por uma madrasta implacável acaba por se revelar um embuste e as aberrações acabam prisioneiras numa sinistra estação espacial. Se a história não é particularmente bem conseguida, a iconografia do mundo ficcional desta banda desenhada é-o e vai agradar aos iconoclastas capazes de destrinçar as inúmeras influências clássicas. Freaks Circus pode ser lido online.